Estrutura e características gerais

A estrutura genérica das festas do Espírito Santo compreende as “Domingas” que têm lugar ao longo de cada uma destas sete semanas, e o Império, que se realiza no domingo de Pentecostes ou da Trindade. Na base tanto das Domingas como dos Impérios encontra-se uma irmandade conhecida também por confraria, espécie de associação formada por irmãos que todos os anos sorteiam os cargos de mordomos para o ano seguinte. Os mordomos das seis primeiras Domingas, têm o dever de realizarem a sua respectiva coroação ornamentando o melhor quarto da casa que irá receber a coroa e a bandeira do Espírito Santo. Este quarto denominado “quarto do Espírito Santo” é composto por uma decoração de flores naturais e artificiais, verduras, toalhas brancas e sobretudo um altar onde a Coroa é posta no topo com o ceptro. O quarto é iluminado com velas e luzes dando-lhe assim um importante carácter lúdico. É neste quarto que se reza o terço todos os dias à noite e se canta em louvor do Espírito Santo. Após esse cerimonial religioso, sucedem-se as conversas, jogos, brincadeiras e canções de temática profana, muitas delas entoadas pela folia, entidade esta de extrema importância nesta festa e que apresentaremos mais adiante. É de salientar que as Domingas caracterizam-se por uma estrutura particularmente simples, marcada pela ausência de prestações alimentares significativas. Actualmente e após a reza do terço, o mordomo oferece doces e bebidas aos presentes. Para além desses ritos e festejos de características religiosas, destaca-se também a Coroação, cortejo solene em que são conduzidas a Coroa, a Bandeira, a Salva e o Ceptro[1] do Espírito Santo até à Igreja, onde no termo da missa o imperador ou imperatriz (geralmente uma criança) é coroado pelo padre. Trata-se de uma procissão em que cada personagem assume um papel importante, como é o caso, por exemplo, do “alferes da bandeira” que tem a função principal de levar a bandeira na coroação, ou o “Védor” também conhecido por “pagem da coroa” que é aquele que conduz a coroa para a igreja e que se encarrega do ritual cerimonial de a tirar ou pôr na cabeça do imperador, dando-lhe a beijar o ceptro. No fim da respectiva coroação, o mordomo oferece um lanche informal em sua casa às pessoas que o acompanharam no decurso deste acto processional. Todavia, é na sétima Dominga que a festa do Espírito Santo atinge o seu auge, altura em que o mordomo ou imperador tem a seu cargo, não só a coroação, mas também a organização da despensa, a distribuição das pensões, a função na igreja e o próprio império. O dia do Império que corresponde ao domingo de Pentecostes ou da Trindade, é o ponto culminante dos festejos.


[1] Na ilha de São Miguel, o Ceptro tem a denominação de “Espadim”.

À propos de Carmen Ponte

Doutoramento em 12/2007, pela Universidade de Poitiers e pela Universidades dos Açores (regime de co-tutela), com a menção “Aprovada com Distinção e Louvor por Unanimidade”. Investigadora Integrada e Pós-doutoranda (FCT) do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX, Universidade de Coimbra. Membro associado do CRLA-Archivos, Universidade de Poitiers, França. Qualificada para as funções de “maître de conférences”.
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